terça-feira, 6 de junho de 2017

COLUNA DO JOSÉ CRUZ: Para onde vai o esporte brasileiro?

          Nas centenas de artigos que escrevi nos últimos anos denunciando a corrupção no esporte e apontando nomes dos (ir)responsáveis, costumava encerrar com um alerta: “E até agora ninguém foi preso”.
            Hoje, a realidade é outra: o primeiro cartola está preso há dois meses, no Rio de Janeiro: Coaracy Nunes, que por 28 anos comandou o desporto aquático.
Estranhamente, só Coaracy foi premiado, porque a quadrilha é maior. E, bem investigada, baterá na mesa de ex-poderosos do Ministério do Esporte, de onde saía a grana, desde Agnelo Queiroz, em 2003. E já se fala numa devassa da Polícia Federal no Comitê Olímpico do Brasil. A máfia dos Senhores dos Anéis precisa dessa investigação. Dezenas de auditorias e relatórios do TCU mostram que a corrupção é real.
Enquanto isso...
Apesar dos megaeventos que sediamos, ainda lamentamos a falta de um plano nacional de esporte e a total ausência de programas para usar as instalações olímpicas, como no Pan 2007.
Mas o que é isso diante da realidade que se discute sobre a necessidade ou não da educação física na grade escolar? Apesar de termos um Ministério do Esporte e um Conselho Nacional do Esporte, nossa realidade é da Idade da Pedra.
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O Brasil tem, há mais de uma década, todas as instituições do esporte funcionando: Ministério, COB, CPB, Confederação Brasileira de Clubes, confederações de todas as modalidades, Confederação de Desporto Escolar, Universitário, Comissão Desportiva Militar, enfim. A esses órgãos juntou-se uma tal de “Autoridade Pública Olímpica”, agora transformada em “Autoridade Governamental de Legado Olímpico”.
O objetivo da nova entidade que Michel Temer decidiu dar continuidade é o mesmo de governos passados: cabide de empregos para aliados políticos.
Diante dessa balbúrdia, começam a surgir algumas soluções esporádicas e isoladas, como a participação de atletas nos órgãos colegiados das confederações. É uma discussão antiga e justa, mas os atletas querem se envolver na gestão do esporte?
Outra dúvida sobre essa representatividade: os atletas eleitos vão se reunir com seus colegas, vou consultá-los pelas mídias sociais para se posicionarem e votarem pela categoria? Farão isso com uma abrangência que lhes permita se posicionar diante dos temas mais polêmicos? Ou a posição que tomarão – e voto, consequentemente – será individual, de acordo com suas convicções? E como é essa representatividade, apenas um atleta? Um por estado? Isso não está definido.
Sugestões para debate
O Brasil esportivo precisa ser repensado e redimensionado. Precisamos definir:
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1 - É da competência do Governo Federal colocar dinheiro público no esporte de rendimento profissional? Conforme a resposta, sim ou não, escolhe-se o caminho.
2 – Em segundo lugar, avaliar se o sistema federativo – federações por estado – ainda atendem à realidade atual. Sem esquecer que as federações esportivas vêm de 1941, ou seja, tem 76 anos!!! Nada mais antigo do que essa estrutura...
Mas, se não compete ao Estado investir no esporte profissional que se aplique, imediatamente, o artigo 217 da Constituição: o dinheiro público para o esporte deve ser aplicado, prioritariamente, no desporto escolar. Nas últimas décadas, foi exatamente o contrário. E fizeram isso sem um Plano Nacional do Esporte nem um Sistema Nacional, confiável, eficiente. O resultado dessa desordem está nas nossas barbas.
Acredito nessa última alternativa, o Estado envolvido apenas com o desporto na escola. Não para formar atletas, mas para oferecer aos estudantes uma atividade física prazerosa e que contribua para a formação do caráter dos jovens, além de ajudar a reduzir as reprovações e melhorar a qualidade de vida e tudo o mais que, cansativamente, já se sabe.
Nesse caso, as atribuições não seriam exclusivas do Ministério do Esporte, mas um trabalho conjunto com os da Educação e Saúde, principalmente. É a vez de perguntar: as excelências querem isso?
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Voltando aos nossos atrasos...
Os Jogos Escolares, que já foram os “tradicionais JEBS”, são promovidos e organizados, há mais de uma década pelo Comitê Olímpico! Isso porque temos uma Confederação Brasileira de Desporto Escolar! Desculpem, mas não é uma esculhambação?
Isso sem falar que os “atletas” que participam dos atuais “Jogos Escolares da Juventude” não são resultado do que praticam na escola – nem deveriam ser –, mas atletas “federados”, isso é, já a caminho do profissionalismo. Ou seja, é uma mentira enorme e um desperdício de governo sem igual vincular os Jogos à Escola.
Finalmente:
Não há dúvidas de que, da mesma forma que existe um exagero de entidades do esporte, há uma intromissão muito grande do Estado e do governo nas iniciativas do esporte em geral, e, em especial, no alto rendimento.
O que em outros países é tratado como “negócio”, “business”, aqui ainda depende das muletas da verba pública, o que contribui para dupla acomodação dos cartolas: eles não modernizaram suas gestões nem se interessaram em promoções do esporte como fonte de atração do público e, daí, a valorização da imagem para ter uma rica fonte de renda. Em segundo lugar, perpetuam-se em seus cargos, inacreditavelmente assalariados públicos.
É nesse panorama que existe um projeto de lei, elaborado por dez advogados do esporte, propondo alterações na legislação, a Lei Pelé, especificamente. Mas, mudar a lei sem termos o “sistema” definido? Sem saber quem é quem nessa balbúrdia que favorece e incentiva intensa corrupção?
Não temos para onde correr, porque o ministério do Esporte é de mentirinha, de faz de conta, onde governam ministros que não sabem sequer distinguir um taco de golfe de um de beisebol. E as excelências não estão nem aí para essa discussão.

* José Cruz, Repórter Esportivo – Jornalista Investigativo. 
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.

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