Nas
centenas de artigos que escrevi nos últimos anos denunciando a corrupção no
esporte e apontando nomes dos (ir)responsáveis, costumava encerrar com um
alerta: “E até agora ninguém foi preso”.
Hoje, a realidade é outra: o
primeiro cartola está preso há dois meses, no Rio de Janeiro: Coaracy Nunes,
que por 28 anos comandou o desporto aquático.
Estranhamente, só Coaracy foi
premiado, porque a quadrilha é maior. E, bem investigada, baterá na mesa de
ex-poderosos do Ministério do Esporte, de onde saía a grana, desde Agnelo
Queiroz, em 2003. E já se fala numa devassa da Polícia Federal no Comitê
Olímpico do Brasil. A máfia dos Senhores dos Anéis precisa dessa investigação.
Dezenas de auditorias e relatórios do TCU mostram que a corrupção é real.
Enquanto
isso...
Apesar dos megaeventos que sediamos,
ainda lamentamos a falta de um plano nacional de esporte e a total ausência de
programas para usar as instalações olímpicas, como no Pan 2007.
Mas o que é
isso diante da realidade que se discute sobre a necessidade ou não da educação
física na grade escolar? Apesar de termos um Ministério do Esporte e um
Conselho Nacional do Esporte, nossa realidade é da Idade da Pedra.LINK |
O Brasil tem, há mais de uma década,
todas as instituições do esporte funcionando: Ministério, COB, CPB,
Confederação Brasileira de Clubes, confederações de todas as modalidades,
Confederação de Desporto Escolar, Universitário, Comissão Desportiva Militar,
enfim. A esses órgãos juntou-se uma tal de “Autoridade Pública Olímpica”, agora
transformada em “Autoridade Governamental de Legado Olímpico”.
O objetivo da nova entidade que Michel
Temer decidiu dar continuidade é o mesmo de governos passados: cabide de
empregos para aliados políticos.
Diante dessa balbúrdia, começam a
surgir algumas soluções esporádicas e isoladas, como a participação de atletas
nos órgãos colegiados das confederações. É uma discussão antiga e justa, mas os
atletas querem se envolver na gestão do esporte?
Outra dúvida sobre essa
representatividade: os atletas eleitos vão se reunir com seus colegas, vou
consultá-los pelas mídias sociais para se posicionarem e votarem pela
categoria? Farão isso com uma abrangência que lhes permita se posicionar diante
dos temas mais polêmicos? Ou a posição que tomarão – e voto, consequentemente –
será individual, de acordo com suas convicções? E como é essa
representatividade, apenas um atleta? Um por estado? Isso não está definido.
Sugestões
para debate
O Brasil esportivo precisa ser
repensado e redimensionado. Precisamos definir:
LINK |
1
- É da competência do Governo Federal colocar dinheiro público no esporte de
rendimento profissional? Conforme a resposta, sim ou não, escolhe-se o caminho.
2
– Em segundo lugar, avaliar se o sistema federativo – federações por estado –
ainda atendem à realidade atual. Sem esquecer que as federações esportivas vêm
de 1941, ou seja, tem 76 anos!!! Nada mais antigo do que essa estrutura...
Mas, se não compete ao Estado investir
no esporte profissional que se aplique, imediatamente, o artigo 217 da
Constituição: o dinheiro público para o esporte deve ser aplicado,
prioritariamente, no desporto escolar. Nas últimas décadas, foi exatamente o
contrário. E fizeram isso sem um Plano Nacional do Esporte nem um Sistema
Nacional, confiável, eficiente. O resultado dessa desordem está nas nossas
barbas.
Acredito nessa última alternativa, o
Estado envolvido apenas com o desporto na escola. Não para formar atletas, mas
para oferecer aos estudantes uma atividade física prazerosa e que contribua
para a formação do caráter dos jovens, além de ajudar a reduzir as reprovações
e melhorar a qualidade de vida e tudo o mais que, cansativamente, já se sabe.
Nesse caso, as atribuições não seriam
exclusivas do Ministério do Esporte, mas um trabalho conjunto com os da
Educação e Saúde, principalmente. É a vez de perguntar: as excelências querem
isso?
LINK |
Voltando
aos nossos atrasos...
Os Jogos Escolares, que já foram os
“tradicionais JEBS”, são promovidos e organizados, há mais de uma década pelo
Comitê Olímpico! Isso porque temos uma Confederação Brasileira de Desporto
Escolar! Desculpem, mas não é uma esculhambação?
Isso sem falar que os “atletas” que
participam dos atuais “Jogos Escolares da Juventude” não são resultado do que
praticam na escola – nem deveriam ser –, mas atletas “federados”, isso é, já a
caminho do profissionalismo. Ou seja, é uma mentira enorme e um desperdício de
governo sem igual vincular os Jogos à Escola.
Finalmente:
Não há dúvidas de que, da mesma forma
que existe um exagero de entidades do esporte, há uma intromissão muito grande
do Estado e do governo nas iniciativas do esporte em geral, e, em especial, no
alto rendimento.
O que em outros países é tratado como
“negócio”, “business”, aqui ainda depende das muletas da verba pública, o que
contribui para dupla acomodação dos cartolas: eles não modernizaram suas
gestões nem se interessaram em promoções do esporte como fonte de atração do
público e, daí, a valorização da imagem para ter uma rica fonte de renda. Em
segundo lugar, perpetuam-se em seus cargos, inacreditavelmente assalariados
públicos.
É nesse panorama que existe um projeto
de lei, elaborado por dez advogados do esporte, propondo alterações na
legislação, a Lei Pelé, especificamente. Mas, mudar a lei sem termos o
“sistema” definido? Sem saber quem é quem nessa balbúrdia que favorece e
incentiva intensa corrupção?
Não
temos para onde correr, porque o ministério do Esporte é de mentirinha, de faz
de conta, onde governam ministros que não sabem sequer distinguir um taco de
golfe de um de beisebol. E as excelências não estão nem aí para essa discussão.
* José Cruz, Repórter
Esportivo – Jornalista Investigativo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.
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