Depois de 27 dias de férias, o Jornal
PODIUM está pronto para a nova temporada do esporte.
Confesso
que ao me preparar para esse editorial, lembrei da primeira edição impressa
(capa ao lado), culminando com uma análise de todos esses longos anos. A
conclusão, infelizmente, é que na página 15 daquela edição, trazia um texto que
merece ser publicado novamente:
Desculpas ao esporte e aos atletas
brasileiros
(Prof.
Ronaldo Pacheco*)
“Desculpem pela falta de espaços
esportivos nas escolas;
Pela falta de professores de educação
física nas séries iniciais;
Pelas escolinhas mercantilizadas que
buscam quantidade de clientes e não qualidade de aprendizagem;
Desculpem pela falta de incentivo na
base;
Desculpem pela falta de praças
esportivas;
Desculpem pelo discurso de que “o
esporte serve para tirar a criança da rua” (é muito pouco se for só isso!);
Desculpem pela violência nas ruas que
impede jovens de brincar livremente, tirando deles a oportunidade de vivenciar
experiências motoras;
Desculpem se muito cedo lhe tiraram o
“esporte-brincadeira” e lhe impuseram o “esporte-profissão”;
Desculpem pelo investimento apenas na
fase adulta quando já conseguiram provar que valia a pena;
Desculpem pelas centenas de talentos
desperdiçados por não terem condições mínimas de pagar um transporte para ir ao
treino, de se alimentar adequadamente, ou de pagar um ‘exame de faixa’;
Desculpem por não permitirmos que
estudem para poder se dedicar integralmente aos treinos;
Desculpem pelo sacrifício imposto aos
seus pais que dedicaram seus poucos recursos para investir em algo que deveria
ser oferecido gratuitamente;
Desculpem levá-los a acreditar que o
esporte é uma das poucas maneiras de ascensão social para a classe menos
favorecida no nosso país;
Desculpem pela incompetência dos
nossos dirigentes esportivos;
Desculpem pelos dirigentes que se
eternizam no poder sem apresentar novas propostas; Desculpem pelos dirigentes
que desviam verbas em benefício próprio;
Desculpem pela falta de uma política
nacional voltada para o esporte;
Desculpem por só nos preocuparmos com
leis voltadas para o futebol (Lei Zico, Lei Pelé, etc.);
Desculpem se a única lei que conhecem
ligada ao esporte é a “Lei do Gérson” (coitado do Gérson);
Desculpem pelos secretários de esporte
de “ocasião”, cujas escolhas visam atender apenas, promessas de ocupação de
espaços político-partidários (e com pouca verba no orçamento);
Desculpem pelos políticos que os
recebem antes ou após grandes feitos (apenas os vencedores) para usá-los como
instrumento de marketing político;
Desculpem por pensar em organizar ‘Olimpíadas’
se ainda não conseguimos organizar nossos ministérios; nossas secretarias,
nossas federações, nossa legislação esportiva;
Desculpem por forçá-los, contra a
vontade, a se ‘exilarem’ no exterior caso pretendem se aprimorar no esporte;
Desculpem pela cobrança indevida de
parte da imprensa que pouco conhece e opina pelo senso comum;
Desculpem o povo brasileiro carente de
ídolos e líderes por depositar em vocês toda a sua esperança;
Desculpem pela nossa paixão pelo
esporte, que como toda paixão, nem sempre é baseada na razão;
Desculpem por levá-los do céu ao
inferno em cada competição, pela expectativa criada;
Desculpem pelo rápido esquecimento
quando partimos em busca de novos ídolos;
Desculpem pelas lágrimas na derrota,
ou na vitória, pois é a forma que temos para extravasar o inexplicável orgulho
de ser brasileiro e de, apesar de tudo, acreditar que um dia ainda estaremos
entre os grandes.”
* Prof. MSc. Ronaldo Pacheco de
Oliveira Filho
Prof. da Secretaria de Educação do DF
(cedido à UnB)
Prof. da Universidade Católica de
Brasília