terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O que será do Brasil esportivo na Olimpíada de Tóquio?

Por: José Cruz
Na última década, o Brasil recebeu todos os maiores eventos esportivos do mundo: Jogos Pan-Americanos, Jogos Mundiais Militares, Jogos Estudantis Mundiais, Copa das Confederações, Copa do Mundo de Futebol, Jogos Olímpicos e Paralimpíada. E por conta dos cofres públicos construiu todas as instalações em nível de Primeiro Mundo. Mais: abriu os cofres para que tivéssemos, nos Jogos Rio 2016 a melhor delegação de todos os tempos. Nos últimos treze anos tivemos, também, três conferências nacionais do Esporte. Dali saíram diretrizes nacional, estaduais e municipais para as três manifestações previstas em lei: alto rendimento, escolar e esporte de lazer.
            Porém, o mesmo governo que facilitou todos esses investimentos e debates não foi cuidadoso para que, ao final tivéssemos, no mínimo, um “Sistema Nacional de Esporte”. Em 13 anos do governo do PT, em que o esporte foi entregue ao PCdoB, tivemos gastanças sem previsões de longo prazo, sem saber “como” conduzir o assunto “esporte” após os megaeventos aqui realizados.
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            Coincidência ou não, o final das promoções esportivas coincide com nova fase do Brasil econômico, o Brasil da crise, do cofre vazio, do orçamento estourado, do débito em caixa, a limitação do crédito. O resultado já está nas piscinas, nas quadras, nas pistas, nos estádios: alto rendimento com um mínimo de verba oficial. O tempo da fartura transformou-se em tempo de miséria, e o atleta, também omisso no debate preliminar, que se lixe.
            Paralelamente, nos 13 anos de farturas crescentes, os cartolas acomodaram-se nas fontes de financiamento público sem buscar alternativas na iniciativa privada. Agora, com estádios fechados e escassos eventos profissionais, as grandes grifes e marcas também enxugam suas verbas publicitárias e para o marketing, contribuindo para agravar a crise do esporte olímpico no país da imprevisão. 
            Por isso, é difícil fazer qualquer previsão sobre o que será do Brasil esportivo nos Jogos Tóquio 2020. Que delegação teremos lá? Renovada? Limitada em um mínimo de atletas devido à falta de recursos? Sem treinamento adequado? Sem equipamentos atualizados?
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E, para agravar, as novas gerações estão ameaçadas de redução expressiva no número de revelações esportivas, pois as excelências ainda debatem se a elementar educação física, ponto de partida para incentivar crianças e jovens ao esporte, deve ou não fazer parte do currículo mínimo escolar. Só isso é o suficiente para demonstrar o nosso atraso e como foi desperdiçado todo o ciclo olímpico.
            Da prática para a teoria, temos um conflito no Legislativo. Enquanto a Comissão de Esportes da Câmara dos Deputados elabora um “Sistema Nacional do Esporte”, elementar para que se tenha um rumo de Política de Esporte, o Senado Federal prepara-se para debater sobre a reforma na Lei Pelé, de 1998. A reforma é indispensável, mas fazer isso sem se ter, antes, o “Sistema” e a “Política” do esporte em geral é ir na contramão e insistir no atraso.
            Que tipo de esporte queremos? Compete ao Estado financiar o alto rendimento? Ou o Estado deve se voltar, prioritariamente para incentivar o desporto escolar, como determina o artigo 217 da Constituição Federal? Compete às Forças Armadas acolher atletas já contemplados com a Bolsa Atleta e Bolsa de Estatais, como as dos Correios, Caixa, Petrobras, etc? E atleta que ganha até 400 mil dólares de premiação por ano, como alguns do tênis, devem receber Bolsa Atleta? E atleta estrangeiro do basquete, também merece Bolsa do falido cofre público?
Afinal, o esporte profissional é responsabilidade do Estado ou deve passar imediatamente à iniciativa privada, para ser explorada com estratégias de marketing como ocorre mundo afora?
            Enfim, nesse panorama é difícil projetar o desempenho da delegação nacional em 2020. Até porque, os próprios estádios, ginásios, pistas e piscinas construídos estão aí, ao abandono, seis meses depois dos Jogos, sem saber quem será o gestor e de onde sairá a verba para a manutenção. Tudo como se previa, mas que soava como crítica de pessimista, como se a realidade de então, escancarada diante de todos, não fosse suficiente para mostrar que o caos estava logo ali. Aqui, agora. Mas ninguém foi preso, ainda...

* José Cruz, Repórter Esportivo – Jornalista Investigativo. 
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011 e permanece conosco no Blog.

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