Por:
José Cruz
Na última década, o Brasil recebeu
todos os maiores eventos esportivos do mundo: Jogos Pan-Americanos, Jogos
Mundiais Militares, Jogos Estudantis Mundiais, Copa das Confederações, Copa do
Mundo de Futebol, Jogos Olímpicos e Paralimpíada. E por conta dos cofres
públicos construiu todas as instalações em nível de Primeiro Mundo. Mais: abriu
os cofres para que tivéssemos, nos Jogos Rio 2016 a melhor delegação de todos
os tempos. Nos últimos treze anos tivemos, também, três conferências nacionais
do Esporte. Dali saíram diretrizes nacional, estaduais e municipais para as
três manifestações previstas em lei: alto rendimento, escolar e esporte de
lazer.
Porém, o mesmo governo que facilitou
todos esses investimentos e debates não foi cuidadoso para que, ao final
tivéssemos, no mínimo, um “Sistema Nacional de Esporte”. Em 13 anos do governo
do PT, em que o esporte foi entregue ao PCdoB, tivemos gastanças sem previsões
de longo prazo, sem saber “como” conduzir o assunto “esporte” após os
megaeventos aqui realizados.
Coincidência ou não, o final das
promoções esportivas coincide com nova fase do Brasil econômico, o Brasil da
crise, do cofre vazio, do orçamento estourado, do débito em caixa, a limitação
do crédito. O resultado já está nas piscinas, nas quadras, nas pistas, nos
estádios: alto rendimento com um mínimo de verba oficial. O tempo da fartura
transformou-se em tempo de miséria, e o atleta, também omisso no debate
preliminar, que se lixe.
Paralelamente, nos 13 anos de
farturas crescentes, os cartolas acomodaram-se nas fontes de financiamento
público sem buscar alternativas na iniciativa privada. Agora, com estádios
fechados e escassos eventos profissionais, as grandes grifes e marcas também
enxugam suas verbas publicitárias e para o marketing, contribuindo para agravar
a crise do esporte olímpico no país da imprevisão.
Por isso, é difícil fazer qualquer
previsão sobre o que será do Brasil esportivo nos Jogos Tóquio 2020. Que
delegação teremos lá? Renovada? Limitada em um mínimo de atletas devido à falta
de recursos? Sem treinamento adequado? Sem equipamentos atualizados?
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Da prática para a teoria, temos um
conflito no Legislativo. Enquanto a Comissão de Esportes da Câmara dos
Deputados elabora um “Sistema Nacional do Esporte”, elementar para que se tenha
um rumo de Política de Esporte, o Senado Federal prepara-se para debater sobre
a reforma na Lei Pelé, de 1998. A reforma é indispensável, mas fazer isso sem
se ter, antes, o “Sistema” e a “Política” do esporte em geral é ir na contramão
e insistir no atraso.
Que tipo de esporte queremos?
Compete ao Estado financiar o alto rendimento? Ou o Estado deve se voltar,
prioritariamente para incentivar o desporto escolar, como determina o artigo
217 da Constituição Federal? Compete às Forças Armadas acolher atletas já contemplados
com a Bolsa Atleta e Bolsa de Estatais, como as dos Correios, Caixa, Petrobras,
etc? E atleta que ganha até 400 mil dólares de premiação por ano, como
alguns do tênis, devem receber Bolsa Atleta? E atleta estrangeiro do basquete,
também merece Bolsa do falido cofre público?
Afinal, o esporte profissional é
responsabilidade do Estado ou deve passar imediatamente à iniciativa privada,
para ser explorada com estratégias de marketing como ocorre mundo afora?
Enfim, nesse panorama é difícil
projetar o desempenho da delegação nacional em 2020. Até porque, os próprios
estádios, ginásios, pistas e piscinas construídos estão aí, ao abandono, seis
meses depois dos Jogos, sem saber quem será o gestor e de onde sairá a verba
para a manutenção. Tudo como se previa, mas que soava como crítica de
pessimista, como se a realidade de então, escancarada diante de todos, não
fosse suficiente para mostrar que o caos estava logo ali. Aqui, agora. Mas
ninguém foi preso, ainda...
* José Cruz, Repórter
Esportivo – Jornalista Investigativo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011 e
permanece conosco no Blog.
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