Por:
JOSÉ CRUZ
Quase
três anos depois do acidente com o avião da LaMia, que transportava a delegação
da Chapecoense e jornalistas para a final da Copa Sul-Americana de 2016, contra
o Atlético Nacional, na Colômbia, as famílias dos 67 brasileiros mortos
continuam sendo humilhadas por autoridades internacionais e poderosos grupos
estrangeiros, numa luta desigual pelos seus direitos.
Entre
lágrimas e tristeza, momentos dramáticos daquela tragédia, foram rememorados
numa audiência pública da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal, na
última terça-feira. Foi quando os parlamentares souberam que os familiares das
vítimas ainda não conseguiram receber o seguro contratado pela empresa aérea,
Bisa, Seguros y Reaseguros. Três anos!
Fabienne
Belle e Mara Regina D´Emilio Paiva, presidente e vice-presidente da Associação
dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo da Chapecoense (AFAV-C), foram
didáticas ao explicar as manobras das empresas envolvidas e dos governos da
Bolívia e da Colômbia, para que o seguro contratado não seja honrado.
Com
advogados especialistas, elas estiveram na Bolívia e Colômbia tentando
conversar com as autoridades afins. Mas foram “mal recebidas” e “mal tratadas”.
O caso torna-se mais grave porque, como já se divulgou, a apólice de seguro não
cobria voos da empresa Lamia para a Colômbia.
Diante
da gravidade dos relatos o presidente da Comissão de Relações Exteriores,
senador Nelsinho Trad, convidará o Itamaraty, o Ministério Público Federal e a
Advocacia Geral da União para entrarem no caso, que envolve diálogo
jurídico-internacional. Em outras palavras, Nelsinho Trad assumiu a denúncia
como uma questão de Estado.
Faz
sentido. Afinal, naquela decisão a Chapecoense representava o nosso futebol. E
teve aval da sempre suspeita Confederação Brasileira de Futebol. E qual a
atitude da cartolagem da CBF nessa tragédia? Que apoio ofereceu às famílias em
defesa daqueles que defenderiam o nosso principal patrimônio
cultural-esportivo?
Recentemente,
na tragédia do Ninho do Urubu, quando dez garotos foram assassinados num
incêndio, devido a irresponsabilidade dos cartolas, mais uma vez a CBF se
omitiu. Logo ela, que expede o “certificado de clube formador”, como o que
entregou ao próprio Flamengo, sem examinar se as instalações que receberiam os
jovens atletas tinham a indispensável segurança.
No
episódio da Chapecoense, omitiu-se também a Conmebol, organizadora da
competição. Sem agir com autoridade para enfrentar uma tragédia extracampo, os
seus cartolas demonstraram que os desmandos em suas gestões são de matar. E,
impunes, dão uma banana para as autoridades de todos os níveis.
Nessas
gestões suspeitas, o mais valioso patrimônio do nosso esporte, o atleta – e
suas famílias, por extensão – está indefeso. E mesmo diante de tantas mortes,
até agora ninguém foi preso.
José
Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador
do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo
publicado originalmente na
coluna
Campo Livre - UOL.
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