Na ausência de legados, Carlos
Arthur Nuzman contribui para que os Jogos Rio 2016 não fiquem no esquecimento.
Ele é o primeiro cartola olímpico das Américas a ser conduzido pela Polícia para
responder a um processo de suspeita de corrupção. O nome da operação é
adequado: “Jogo Sujo".
Há 22 anos na presidência do COB,
Nuzman age como se fosse insubstituível. Sobre isso, o senador Cristovam
Buarque discursou:
“O longo prazo dos dirigentes no
mesmo cargo provoca o desprezo às bases. Cria o sentimento de que o dirigente é
o dono, o proprietário do que dirige, acostuma-se aos erros e isso dificulta a
luta contra a corrupção. Dirigente é uma função e não uma propriedade”.
Esperei 14 anos por esse momento de
ver um cartola conduzido pela Polícia para se explicar. Desde quando o governo
federal abriu as torneiras do dinheiro público para o esporte de alto
rendimento. Desde 2003, quando o Ministério do Esporte foi entregue ao PCdoB, a
farra foi grande. Acusado de corrupção, o ex-ministro Orlando Silva foi
demitido do cargo, lembram?
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Por isso, o episódio Nuzman é a
ponta de um escândalo escondido há muitos anos. É bom lembrar que João
Havelange renunciou ao cargo que ocupava no Comitê Olímpico Internacional para
não ser expulso, também acusado de corrupção. O esquema é antigo e interligado
mundialmente. Em 2000, o jornalista Andrew Jennings já revelava trapaças dos
cartolas em seu livro, “Os Senhores dos Anéis – corrupção, poder e drogas nos
bastidores olímpicos”.
A corrupção no esporte brasileiro
não se limita aos Jogos Rio 2016. Passa pelos Jogos Pan-Americanos do Rio de
Janeiro, em 2007, como demonstram, em detalhes, dezenas de relatórios do
Tribunal de Contas da União (TCU).
Está claro que o esquema envolve o
Ministério do Esporte. Foi dali que saíram alguns bilhões de reais em
“convênios” para confederações e comitês Olímpico e Paraolímpico. Mesmo sabendo
que estava entregando dinheiro para ladrões de cartola, ainda assim as excelências
mantiveram as torneiras abertas: Agnelo Queiroz, Orlando Silva, Aldo Rebelo,
George Hilton, Ricardo Leyser e Leonardo Picciani foram os ministros que
liberaram dinheiro à vontade.
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Lembro de um caso que revelei em
2011/2012, por aí. O Ministério liberou R$ 400 mil para um tal de “Jogos de
Verão”, promovidos pela União Nacional dos Estudantes, a UNE. Pois os tais
Jogos nunca aconteceram. Eram de fachada. Alguém embolsou a grana. Esse é
exemplo “miserável”, diante dos milhões que são desviados por mãos-peludas da
República.
Bolsa Atleta, patrocínio de
estatais, Lei Piva são outras fontes de dinheiro para o esporte que, espero,
seja foco da Polícia Federal. Já a Lei de Incentivo ao Esporte merece uma
operação em separado. Ali, meus amigos, a festa é de arromba!!!
Se a Polícia avançar, o episódio
Nuzman vai cruzar com trambiques da Lava-Jato, porque o que não faltou nos
Jogos do Rio de Janeiro foram empreiteiras, as grandes incentivadoras da
corrupção. Nuzman não estava envolvido com as obras, mas a sua íntima ligação
com políticos, prefeito e governador do Rio de Janeiro sugere uma investigação
rigorosa para que não fiquem dúvidas nem se cometam injustiças.
Enfim, nada disso me surpreende.
Tudo foi registrado no blog que eu assinava no UOL Esporte, entre 2009 e 2014.
Apesar das manifestações irônicas de “amigos” sobre as revelações que eu fazia,
o tempo acaba demonstrando que os ingênuos estavam do outro lado.
Enfim, a verdade é: a corrupção no
esporte é olimpicamente real.
* José Cruz, Repórter
Esportivo – Jornalista Investigativo. Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.
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