quarta-feira, 6 de setembro de 2017

A corrupção no esporte é olimpicamente real

Por: José Cruz
            Na ausência de legados, Carlos Arthur Nuzman contribui para que os Jogos Rio 2016 não fiquem no esquecimento. Ele é o primeiro cartola olímpico das Américas a ser conduzido pela Polícia para responder a um processo de suspeita de corrupção. O nome da operação é adequado: “Jogo Sujo".
            Há 22 anos na presidência do COB, Nuzman age como se fosse insubstituível. Sobre isso, o senador Cristovam Buarque discursou:
            “O longo prazo dos dirigentes no mesmo cargo provoca o desprezo às bases. Cria o sentimento de que o dirigente é o dono, o proprietário do que dirige, acostuma-se aos erros e isso dificulta a luta contra a corrupção. Dirigente é uma função e não uma propriedade”.
            Esperei 14 anos por esse momento de ver um cartola conduzido pela Polícia para se explicar. Desde quando o governo federal abriu as torneiras do dinheiro público para o esporte de alto rendimento. Desde 2003, quando o Ministério do Esporte foi entregue ao PCdoB, a farra foi grande. Acusado de corrupção, o ex-ministro Orlando Silva foi demitido do cargo, lembram? 
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            Por isso, o episódio Nuzman é a ponta de um escândalo escondido há muitos anos. É bom lembrar que João Havelange renunciou ao cargo que ocupava no Comitê Olímpico Internacional para não ser expulso, também acusado de corrupção. O esquema é antigo e interligado mundialmente. Em 2000, o jornalista Andrew Jennings já revelava trapaças dos cartolas em seu livro, “Os Senhores dos Anéis – corrupção, poder e drogas nos bastidores olímpicos”.
            A corrupção no esporte brasileiro não se limita aos Jogos Rio 2016. Passa pelos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, como demonstram, em detalhes, dezenas de relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU).
            Está claro que o esquema envolve o Ministério do Esporte. Foi dali que saíram alguns bilhões de reais em “convênios” para confederações e comitês Olímpico e Paraolímpico. Mesmo sabendo que estava entregando dinheiro para ladrões de cartola, ainda assim as excelências mantiveram as torneiras abertas: Agnelo Queiroz, Orlando Silva, Aldo Rebelo, George Hilton, Ricardo Leyser e Leonardo Picciani foram os ministros que liberaram dinheiro à vontade.  
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            Lembro de um caso que revelei em 2011/2012, por aí. O Ministério liberou R$ 400 mil para um tal de “Jogos de Verão”, promovidos pela União Nacional dos Estudantes, a UNE. Pois os tais Jogos nunca aconteceram. Eram de fachada. Alguém embolsou a grana. Esse é exemplo “miserável”, diante dos milhões que são desviados por mãos-peludas da República.
            Bolsa Atleta, patrocínio de estatais, Lei Piva são outras fontes de dinheiro para o esporte que, espero, seja foco da Polícia Federal. Já a Lei de Incentivo ao Esporte merece uma operação em separado. Ali, meus amigos, a festa é de arromba!!!
            Se a Polícia avançar, o episódio Nuzman vai cruzar com trambiques da Lava-Jato, porque o que não faltou nos Jogos do Rio de Janeiro foram empreiteiras, as grandes incentivadoras da corrupção. Nuzman não estava envolvido com as obras, mas a sua íntima ligação com políticos, prefeito e governador do Rio de Janeiro sugere uma investigação rigorosa para que não fiquem dúvidas nem se cometam injustiças.
            Enfim, nada disso me surpreende. Tudo foi registrado no blog que eu assinava no UOL Esporte, entre 2009 e 2014. Apesar das manifestações irônicas de “amigos” sobre as revelações que eu fazia, o tempo acaba demonstrando que os ingênuos estavam do outro lado.
            Enfim, a verdade é: a corrupção no esporte é olimpicamente real.

* José Cruz, Repórter Esportivo – Jornalista Investigativo. Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.


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