Por
José Cruz
Depois
de a delegação brasileira retornar das Olimpíadas de Roma-1960 com apenas duas
medalhas de bronze (basquete e natação), o jornalista Alexandre Djukitch
publicou no jornal carioca Diário da Manhã uma detalhada análise do esporte,
com propostas para tirá-lo do buraco. Isso foi em 1961, há 58 anos...
Já
no primeiro artigo, o jornalista alertava:
“É
preciso, primeiramente, conceber uma nova doutrina do esporte brasileiro, criar
um organismo apto para executá-la e dotá-lo de meios suficientes para a
realização da tarefa”.
Impressionante
como isso continua atual, mas seis décadas depois, o Brasil esportivo continua
sem rumo na base, principalmente. E, pior, em lamentável deriva no geral,
apesar da estrutura ministerial que tivemos durante 15 anos (2003 a 2018) e das
fontes de financiamentos públicos que garantiram boa grana para atletas,
técnicos e dirigentes.
Os
jornais com os dez artigos de Alexandre Djukitch ficaram amarelados pelo tempo.
Suas propostas não foram consideradas. E a comparação dos seus textos com a
realidade de agora mostra o fracasso das medidas ao longo dos anos,
principalmente na sucessão de inexperientes ministros no comando do nosso
esporte. A cada mudança de governo lá vinha nova excelência, cheia de ideias, a
maioria deputados, mas que só serviam para apressar o estrago e ajudar o
sistema a patinar no atraso. Tal como agora, apesar do supremo reforço de “Deus
acima de todos”...
LINK |
No
segundo artigo do jornalista destacava:
“Está
acéfala a base do esporte brasileiro, sem reforma desde 1941”.
Feito
o cálculo, não é exagero concluir que estagnamos 78 anos nesse quesito. Em
decorrência, políticas de longo prazo para a iniciação esportiva e a formação
da base ficaram pelo caminho. Ainda hoje, a quem compete a identificação e
formação de novos atletas? Às escolas? Aos clubes? À rua? Às academias? Ao
acaso? Temos iniciativas meritórias, mas isoladas e quem nem sempre cumprem as
suas metas, porque o “apoio” fica pelo caminho. E quem acolhe ou investe nessa
geração? O governador? O prefeito? O ministro? O político? A Caixa? Não! A
Caixa está fora. Incentivou centenas de jovens, liberou muita grana, loterias,
bolsas etc. Porém, na hora da transição para o profissional o “apoio” recuou e
passou a chave no cofre, numa atitude que coincide com o início de novo governo
federal. Ordens do Capitão.
O
abandono da garotada entristece, mas assim é o Brasil. Somos um país olímpico
sem qualquer compromisso de longo prazo com o esporte. E o atleta que se lixe.
Sem ser visionário, Alexandre Djukitch
antecipou capítulos da nossa história esportiva. E não aprendemos que o esporte
não precisa de “apoios”, mas de política de longo prazo. Mas como discutir
sobre isso se ainda estamos no debate de como deve ser a elementar educação
física na idade escolar?
José Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo publicado originalmente na
coluna Campo Livre - UOL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário