Por: JOSÉ CRUZ
A
carreira de cartola de Rogério Caboclo, recém-empossado presidente da CBF,
indica que ele não se desvinculará do padrinho Marco Polo Del Nero, para tentar
implantar a transparência e a confiança que faltam naquela casa. E os perfis
dos vice-presidentes não sugerem novos tempos naquelas bandas.
Caboclo
cresceu no esporte à sombra da dinastia de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e
Del Nero, banidos do futebol. Aluno premiado dessa escola, ele foi
diretor-executivo da CBF e, graças à influência de Del Nero no colégio
eleitoral, venceu a eleição. Diante disso, trairá ele o ex-líder do “crime
organizado no futebol”? – no dizer do senador Romário em seu relatório
alternativo da CPI do Futebol 2016?
A
corrupção na CBF não é recente, vem de décadas. Na CPI da CBF Nike, de 2001, o
então deputado Silvio Torres já demonstrava, com fartura de provas, como o
futebol era usado para a promoção de grandes negócios. “São milhões de dólares
que rolam em contratos obscuros e desaparecem”, escreveu.
O
tempo passou. Agora, cinco anos depois da Copa do Mundo no Brasil, pode-se até
reclamar da falta de “legados” – técnicos, inclusive. Mas sobram processos
criminais com denúncias de corrupção e investigações policiais envolvendo
vários cartolas. Certo é que as constatações de fraudes em inquéritos, como o
dos Estados Unidos, comprovaram as denúncias das CPIs no Brasil. E J. Hawilla,
dono da Traffic, em delação à Justiça norte-americana confirmou o esquema do
“escândalo Fifa”, envolvendo, também, a cúpula do futebol brasileiro. Hawilla
morreu em 2018.
Em
resumo, a CBF mantém, por anos, uma administração suspeita, “enquanto fortunas
privadas formam-se rapidamente, administradas em paraísos fiscais de onde
brotam mansões, iates e se alimenta o poder de cooptação e de corrupção”
(Relatório da CPI da CBF Nike – 2001).
O recente banimento do futebol de José
Maria Marin, imposto pela Fifa, é punição continuada dos mãos-peludas da
cartolagem, que não podem ser esquecidas: Marin foi preso em 2015, e Del Nero,
vice, assumiu a CBF. Mas não viajou mais para exterior sob pena de prisão.
Bem
antes dessa dupla, Ricardo Teixeira afastou-se da presidência da CBF e do
Comitê Organizador da Copa 2014. Só nas suas mãos foram 23 anos explorando a
imagem e o jogo da Seleção Brasileira para a geração de dinheiro superfaturado.
“Pentacampeão
mundial e com gerações de craques que deixaram saudade, o futebol brasileiro
tem um capítulo policial que envergonha a história do nosso esporte”, escreveu
Romário em seu relatório da CPI do Futebol. E detalhou: “As ações criminosas
identificadas na CBF ocorrem de várias formas, mas todas com alguns elementos
em comum: repetem, quase sempre, os mesmos procedimentos, executados pelas
mesmas pessoas, como numa quadrilha bem articulada”.
As
autoridades brasileiras sabem sobre isso. Supremo Tribunal Federal, Ministério
Público, Banco Central, Polícia Federal, Receita Federal etc, receberam o
relatório do senador, assim como o da CPI da CBF Nike de 2001, e CPI do Futebol, no
Senado, no mesmo ano . Mas as punições à cartolagem, até agora, só da Justiça
americana e da Fifa.
José Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo publicado originalmente na
coluna Campo Livre - UOL.
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