* Por:
José Cruz
O
governo federal discute investigar sobre o dinheiro público que o extinto
Ministério do Esporte destinou às confederações. Os focos da varredura seriam
os contratos (verba orçamentária) e os patrocínios das estatais. Porém, para se
ter uma verdadeira “Lava Jato do Esporte” deveriam incluir na varredura os
projetos da Lei de Incentivo e os gatos –
ops, errei ... os gastos dos megaeventos esportivos.
Estranhamente,
o esquema de corrupção identificado em confederações pelo Ministério Público e
pela Polícia Federal do Rio de Janeiro, há cinco anos, não evoluiu. Ali estava
o caminho das pedras de uma rede de fraudes com o dinheiro do esporte. Além,
claro, das parcerias olímpicas com governos e empreiteiras.
A
decisão do governo de investigar as denúncias surge quando empresas estatais
começam a abandonar o apoio ao alto rendimento. E coincide com a reportagem da
Folha de S. Paulo, no domingo, contando que, só em 2018, sete estatais
investiram R$ 381milhões em 73 contratos.
Em
tese, o esporte enfrenta a sua pior crise das últimas décadas, atingindo a
estrutura do sistema. No início, denúncias de corrupção envolveram cartolas da
elite, como o então comandante olímpico, Carlos Arthur Nuzman, e o
ex-presidente da CBF, José Maria Marin, condenado pela Justiça dos Estados
Unidos.
Os
problemas se agravaram e o terror, agora, é a escassez de dinheiro público nas
confederações. Por extensão, as federações agonizam. Na iniciativa privada,
Nike, Nissan e Bradesco não renovaram contrato com o Comitê Olímpico do Brasil.
O
drama cresceu em janeiro deste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro chaveou
o cofre público que abastecia o alto rendimento; só de patrocínio das estatais
a perda foi de 50%, coisa de R$ 190 milhões, ainda segundo a Folha.
É
preciso lembrar os tempos de fartura. Foi em 2003, no primeiro ano de mandato
do ex-presidente Lula, que o esporte entrou nas prioridades do governo. A grana
saía do Orçamento da União, da Lei de Incentivo, das Forças Armadas, Caixa
Econômica, Petrobras, Infraero, Banco do Brasil, Correios, Eletrobrás, BNDES, e
os tradicionais repasses das loterias federais, via Lei Piva. Fora os
investimentos dos estados e municípios, no Rio de Janeiro, principalmente, sede
do Pan-Americano de 2007 e demais megaeventos.
Com
tanto dinheiro, nada faltou à preparação da elite dos atletas aos Jogos Rio
2016. E estava garantida a primeira classe dos nossos “esforçados dirigentes”
nas viagens internacionais. Nessa festa esportiva o futebol entrou na farra, e
mais de cem clubes tiveram perdoada boa parte de suas dívidas fiscais, que
beirava os R$ 5 bilhões. O saldo está sendo pago em até 240 meses.
Generosidades da então presidente Dilma Rousseff.
Nesse
panorama geral faz sentido o governo investigar para saber quem e como lucrou
com os grandes eventos esportivos. O contribuinte ficará agradecido se parte do
dinheiro, no mínimo, for devolvido. Ilusão? Nada disso! Os políticos e
poderosos empreiteiros da Lava Jato que se mudaram para Curitiba que o digam.
José Cruz, Jornalista. Comentarista
esportivo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde
2011.
Artigo publicado originalmente na
coluna Campo Livre - UOL.
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