Por:
José Cruz
O
privilegiado refinanciamento da dívida fiscal dos clubes de futebol, em 240
meses, perdão de multas e juro subsidiado, e o “legado” da Copa – 2014 não
ajudaram muito os principais clubes nacionais a evoluir de forma significativa
em suas finanças. Apesar de estádios novos e outros modernizados, a principal
fonte de renda não vem das bilheterias, mas da televisão e da venda de
jogadores para o exterior.
“Em
2014, o faturamento dos clubes Top 20 era de R$ 3,1 bilhões. Atualmente é de R$
5,3 bilhões (69% de crescimento). Mas não cresceu por boa gestão dos times ou
exploração de oportunidades e sim pelo dinheiro da TV e venda de jogadores”.
A
observação é de Amir Somoggi, da SportsValue, que anualmente analisa os
balanços dos clubes para avaliar o tamanho do mercado do nosso futebol.
Em
números mais atuais, Amir concluiu que em 2018 os 20 principais clubes
faturaram R$ 5,26 bilhões, recorde, mas o crescimento sobre 2017 (R$ 5,14 bi)
foi de apenas 2,4%. “Esse crescimento
foi muito afetado pelas receitas com transferências, que atingiram R$ 1,3
bilhão em 2018, o maior valor da história”, afirmou o analista.
A Copa de 2014 influenciou no desempenho
financeiro dos clubes, em 2018?
Amir
- A Copa do Mundo
afetou muito as finanças dos times brasileiros, alguns positivamente e muitos
negativamente. Os novos estádios trouxeram novas receitas para os times que
negociaram a bilheteria para si. Os que sonharam em ser sócios dos
empreendimentos sofreram negativamente. Assim, Internacional, Flamengo,
Athletico-PR e Palmeiras (que não estava na Copa mas teve um novo estádio)
ficaram com a bilheteria e junto com o sócio torcedor conseguiram crescer. O Athletico
Paranaense é o único 100% dono de todas as receitas. Hoje fatura R$ 38 milhões
com a arena, mas deveria faturar R$ 80 milhões por ano. Já o Palmeiras fatura
R$ 164 milhões entre bilheteria e sócio torcedor. Já Grêmio e Corinthians
ficaram sem bilheteria e perderam receitas na comparação com outros. Os demais estádios da Copa são um fiasco...
Comparativamente a 2014, quanto
cresceu o mercado de futebol no Brasil?
Amir
- Em 2014 vivíamos um
período de estagnação completa. As receitas dos times Top 20 (representavam 81%
do mercado de futebol no Brasil) era de R$ 3,1 bilhões, a mesma de 2013 e 2012.
Atualmente o faturamento é de R$ 5,3 bilhões (69% de crescimento). Mas não
cresceu por boa gestão dos times ou exploração de oportunidades e sim pelo
dinheiro da TV e venda de jogadores. Em 2014 a TV pagava R$ 1,1 bilhões para os
clubes atualmente está em R$ 2,01 bi. Já as transferências que eram de R$ 436
milhões em 2014 estão agora em incríveis R$ 1,3 bilhão. TV e jogadores
representam 62% do total faturado em 2018. Entre 2014 e 2018 a bilheteria
passou de R$ 311 milhões para R$ 421 milhões (mais 35%). Já os patrocínios
subiram de R$ 467 milhões para R$ 523 milhões (12%).
Quais os principais clubes
exportadores de atletas e quanto faturaram em 2018?
Amir
- Os times que mais
faturaram: Palmeiras R$ 170 milhões, São Paulo
(R$ 155 milhões), Grêmio (R$ 132 milhões), Fluminense (R$ 119 milhões) e Corinthians (R$
119 milhões). O São Paulo é disparado o que mais fatura com atletas na
história. Entre 2003 e 2018 gerou R$ 1,08 bilhão em transferências de
jogadores.
O Profut, que refinanciou a dívida
fiscal, ajudou a fortalecer as finanças dos clubes analisados?
Amir
- O Profut foi mais
uma tentativa frustrada de ajudar os clubes, pois começou errado. Alertei sobre
isso em análises e entrevistas. Os sonegadores receberam de presente em 2015
mais de R$ 700 milhões em receitas financeiras pelos descontos obtidos. Uma
vergonha! E agora quatro anos depois, as dívidas fiscais subiram! Em 2015 eram
de R$ 2,2 bilhões em 2017 chegaram a R$ 2,6 bilhões. Agora em 2018 pela
primeira vez cai, para R$ 2,5 bilhões. O Profut não vai arrumar a gestão do
futebol brasileiro, assim como a Timemania e a Lei de Moralização não
conseguiram. O único caminho são punições severas por má gestão. Temos clubes
como Corinthians, Cruzeiro e Atlético-MG sendo campeões acumulando déficits.
Aqui se premia a má gestão e se pune a boa administração.
As vendas de ingressos continuam
inexpressiva frente às demais fontes de renda dos clubes. Qual o motivo?
Amir
- Isso se deve à
péssima gestão dos clubes. Nem o preço dos ingressos nem o horário dos jogos é
motivo suficiente para tamanha incapacidade de gerar receitas. Os times vivem
na cultura de só lotar os estádios quando vale algo em termos esportivos. Não
sabem como encher os estádios em jogos de menor expressão, muitos nas
competições de pontos corridos. O Brasil não entende como viabilizar estádios
nos pontos corridos. Muitos times têm 100 mil, 120 mil sócios, e médias abaixo
de 25 mil por jogo. O caminho é estudar os modelos bem-sucedidos no mundo e
explorar oportunidades. Os times falham muito na gestão.
Qual o clube que melhor explorou a
sua marca comercialmente?
Amir
– Foi o Palmeiras (R$
95 milhões), seguido do Flamengo (R$ 90 milhões) e Corinthians (R$ 43 milhões).
São valores ridículos, já que o Palmeiras só fatura isso por conta do apoio da
Crefisa.
Quais as principais fontes de
receitas dos clubes em 2018?
As principais receitas dos Top 20 em
2018
________________________
TV 38%
Transferências 24%
Sócios 12%
Patrocínios 10%
Bilheteria 8%
Outras 8%
_________________________
E como estão as finanças CBF segundo
o balanço de 2018?
Amir
- Em 2018 a CBF teve
um faturamento de R$ 617 milhões, crescimento de 13% sobre o ano anterior (R$
483 milhões).
Em resumo, o que isso significa?
Amir
– Significa o
seguinte: em 2018 a CBF teve um lucro líquido R$ 52 milhões, sendo que o lucro
acumulado nos últimos 16 anos é de R$ 640 milhões.
E o desempenho dos patrocínios?
Amir
– As receitas com
patrocínios caíram 23% em três anos. Eram R$ 411 milhões em 2016 e são R$ 318
milhões em 2018. Já os salários e gastos administrativos somaram R$ 166 milhões.
Em Caixa, a CBF guardou R$ 517 milhões. Mas aqui há uma comparação que deve ser
feita: os Top 20 times do Brasil tinham R$ 86 milhões em caixa em 2018. O
Corinthians, por exemplo, registrou R$ 1,1 milhão em caixa, enquanto a CBF tem
R$ 517 milhões...
Realmente,
tem algo muito errado no futebol brasileiro.
José
Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador
do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo
publicado originalmente na
coluna
Campo Livre - UOL.
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