* José Cruz
A
Folha de São Paulo divulgou que “o Grupo Ecotonian, anunciado pela CBF como
parceiro da empresa Sport Promotion em um consórcio para exploração de placas
de publicidade do Campeonato Brasileiro, possui laços em paraísos fiscais”.
Com
quarenta dias de antecedência, o mesmo jornal antecipou que esse grupo venceria
a concorrência. Ou seja, jogo viciado e combinado, tudo acertado para driblar o
VAR da transparência e os fiscais que combatem a corrupção no esporte. Temos
isso?
Esse
tipo de notícia já é rotina e passa despercebida do torcedor que sustenta a
fenomenal máquina financeira do futebol. Mas esses atos suspeitos passam ao
largo, principalmente, das autoridades de governo, quem sabe também envolvidas
pelas emoções que o jogo da bola impõe.
Para
que os raros leitores entendam melhor essas práticas, recupero uma informação
de 2006 que justifica a expressão “rotina”. À época, o então presidente Ricardo
Teixeira fechou acordo sigiloso com o Dallah Al-Baraka Group, para vender os
jogos da Seleção Brasileira por dez anos. A sede da tal empresa era em George
Town, paraíso fiscal das Ilhas Cayman. E o endereço, acredite, era uma caixa
postal...
Esse
fato foi revelado na CPI do Futebol, em 2015, pelo jornalista Jamil Chade. Ao
final, o presidente da CPI, senador Romário, escreveu em seu relatório
alternativo:
“Estava
claro como a CBF leiloou a Seleção Brasileira, recebendo em troca alguns
milhões de dólares, além de comissões de agentes e de empresas em paraísos
fiscais, operações fechadas longe do controle da Receita Federal Brasileira”.
Naquela
ocasião, a CPI não teve acesso aos contratos da CBF, pois a cartolagem foi à
Justiça e barrou a investigação sobre as suas estranhas relações financeiras,
apesar das evidências de frequente sonegação fiscal. E, reparem, esses
“negócios” tinham como produto principal a Seleção Brasileira de Futebol!
E
tudo isso era realizado sem que as autoridades nacionais de fiscalização e de
combate à sonegação fiscal “perturbassem” os intocáveis cartolas.
Não
é demais relembrar que as punições a que foram submetidos os ex-presidentes da
CBF, José Maria Marin, Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, vieram de
entidades internacionais. Marin foi condenado por corrupção, ainda cumpre pena
nos Estados Unidos; Del Nero e Teixeira, banidos do futebol pela Fifa, estão
exilados no Brasil. Salvos e seguros.
Não
é uma beleza?
José
Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador
do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo
publicado originalmente na
coluna
Campo Livre - UOL.
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