Por:
JOSÉ CRUZ
Estamos
no final do mês e ainda repercute a coluna de 11 de abril. Alguns leitores não
gostaram do artigo “Com pastor em `cargo de atleta´ o esporte é diminuído” e
mandaram mensagens com várias críticas. Como este espaço é aberto ao bom debate
procuro responder a todos, inclusive os mais grosseiros e agressivos. Entendo,
pois faz parte do fanatismo esportivo ou religioso.
Tais
leitores ficaram incomodados com as críticas ao desconhecido maranhense João
Manoel Santos Souza, indicado para ocupar a Secretaria Nacional de Alto
Rendimento, da Secretaria de Esporte do Ministério da Cidadania. Porém, mesmo
com o apoio do ex-senador José Sarney, o pastor não deverá assumir, informaram
fontes próximas do ministro da Cidadania, Osmar Terra. Quem o substituirá ainda
é segredo.
Como
já escrevi, a Secretaria Nacional de Alto Rendimento já foi ocupada por
expoentes do nosso esporte olímpico. Agora, entregá-la a um leigo no assunto
seria um desrespeito aos que têm credencial, um desprestígio à intelectualidade
do esporte e um enorme retrocesso para o país que já sediou uma Olimpíada.
Politicamente
falando, o governo repetiria erros de governos passados. Quando Lula assumiu o
poder, em 2003, contemplou o PCdoB com o Ministério do Esporte. Os dirigentes
comunistas sabem muito sobre movimentos de classes, lutas sociais, greves etc.
Mas de esporte... Aos poucos, tornaram a pasta um reduto de cabos eleitorais e
outros desocupados.
Com
a chegada dos megaeventos, a partir do Pan-Americano de 2007, a corrupção ficou
fora de controle naquela pasta, porque, com calendário e prazos esgotados, a
ordem era concluir as obras de qualquer jeito. E assim foi. Quanto maior o
atraso, melhor era a festa dos espertos. O TCU tem relatórios valiosos sobre
isso. À época, os cargos eram ocupados
por leigos, oportunistas, apadrinhados políticos que nada planejaram para o
“depois das festas”. Hoje, em decorrência, as dificuldades são enormes para os
atletas, assim como seus clubes, confederações, etc. Tudo por falta de um plano
pós-olímpico, que não foi feito porque ninguém entendia do assunto.
E
preciso entender que uma coisa é o cargo ocupado por um dirigente esportivo
capaz; outra é o cargo oferecido ao pelego político. Na era PT e antes,
inclusive, tivemos muito disso. Por exemplo, um deputado-pastor, George Hilton,
tornou-se ministro do Esporte. Ele foi sincero quando, na posse, revelou que
não entendia nada da pasta, mas conhecia tudo “de gente”. Quantos anos perdemos
com essa e outras aberrações?
Já
no governo de Fernando Henrique Cardoso tivemos um deputado, Carlos Melles,
como ministro do Esporte e Turismo. Melles era e é um bem-sucedido produtor de
café. Que tal? Mais recentemente, a então presidente Dilma Rousseff nomeou um
“agropecuarista” – o deputado Leonardo Picciani – para a pasta. Vou repetir:
cafeicultor, agropecuarista e pastor que só entendia de gente foram ministros
do Esporte!
Está
claro que o novo governo herdou uma desordem institucional, a ponto de acabar
com o ministério e criar uma secretaria do Esporte vinculada ao Ministério da
Cidadania para tentar colocar ordem no setor. Porém, depois de quatro meses de
atuação, ainda não temos uma equipe que nos garanta novos rumos. Triste
panorama, muito triste.
José
Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador
do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo
publicado originalmente na
coluna
Campo Livre - UOL.
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