Por José Cruz
A
cada quatro anos o brasileiro descobre que há vida esportiva fora do futebol.
Por breves dias, os olímpicos e paralímpicos nos permitem esquecer o jogo da
bola para vibrar com pódios na ginástica, no vôlei, no judô ou no atletismo,
como se fossem raros gols de Neymar... Ao final, nos satisfazemos com pingadas
medalhas, apesar do tamanho, da diversidade e do potencial humanos do nosso
país para formar bons competidores em todas as modalidades. Proporcionalmente,
os paraolímpicos mostram mais resultados.
O
ano de 2020 está chegando e lá vai o Brasil rumo a Tóquio: Olimpíada, de 24 de
julho a 9 de agosto, e Paralimpíada de 25 de agosto a 6 de setembro. Nesses
eventos, saberemos se os investimentos públicos para os Jogos Rio 2016 deixaram
legados de fato.
Os
governos das últimas décadas apostaram no esporte para exibir ao mundo o nosso
potencial e capacidade de, também, conquistar pódios. Dinheiro não faltou, mas
planejamento de longo prazo e fiscalização sim. A corrupção e o desperdício
foram enormes, já comentados neste espaço. Agora, a conta amarga do jogo dos
espertos chegou, e a falta de dinheiro e a choradeira são reais.
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Há
três anos, depois de apagada a chama olímpica no Rio de Janeiro, lancei as
seguintes questões em um artigo que provocava sobre o nosso futuro esportivo:
“O que será do amanhã? A chegada de
novo governo ao poder da República e a gravidade da economia tornarão o esporte
uma `fábula de Cinderela´, como no conto de fadas em que uma carruagem volta às
suas origens, uma abóbora?
E
indaguei mais: “As estatais continuarão a jogar dinheiro nas confederações”? “O
Ministério do Esporte terá orçamento para manutenção e conservação das 47
pistas de atletismo que distribuiu pelo país”? E por aí segui numa série de
dúvidas que, hoje, temos as tristes respostas.
Pois
o novo governo chegou. O déficit total projetado nas contas públicas deste ano
é de R$ 130 bilhões, o que endurece o jogo da liberação de grana pública para o
esporte. O Ministério foi extinto, e a recém-criada Secretaria de Esporte ainda
não tem equipe titular completa. As verbas secaram. E, apesar de termos um
presidente formado em Educação Física e egresso das Forças Armadas, de
tradicional vínculo com a prática esportiva, os rumos do esporte estão à
deriva.
Diante
das mazelas da saúde, da educação e da segurança, compreende-se que o esporte
não esteja entre as prioridades do atual governo. Mas, também, não se pode
ignorar o que foi construído em termos físicos e humanos para os Jogos Rio
2016. Ao ignorar isso, o governo apressa o desmonte do que restou e repete,
indiretamente, o desperdício de governos passados.
José Cruz, jornalista e comentarista esportivo.
Colaborador do Jornal PODIUM desde 2011.
Artigo publicado originalmente na
coluna Campo Livre - UOL.
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